segunda-feira, 15 de março de 2021

Fui à casa de minha mãe. Vários móveis foram vendidos, alguns descartados, outras coisas vieram pra minha casa, outras pra casa dos meninos. A casa está praticamente desmobiliada e nessa altura do campeonato, eu nem sei se essa palavra existe.

 Teias de aranha cruzando as portas, provando que não há mais trânsito entre elas.

O chão empoeirado, com lama já seca, pegadas, mostram que ninguém mais tira os sapatos para entrar, sem pudor de sujar o chão antes limpo com tanto zelo.

A mesa da cozinha não está mais ali. Noutro tempo, servindo café com leite e pão fresco, foi vendida junto com a cadeiras que nem faziam parte do jogo.

Há um lixo entulhado no canto, empurrado porcamente com uma vassoura, apenas para limpar "o meio". Aquele monte de tralha que a gente sempre pensa em jogar fora mas procrastina pois vai que um dia precisa de algo dali.

A área de serviço é a parte mais abandonada. Está suja, com baratas mortas das vezes que jogamos veneno apressados em ir embora logo, aranhas que caíram dentro do tanque e não morreram por não conseguirem subir com suas oito patinhas o material escorregadio da cuba. Um pano de chão que secou embolado mas em outro momento esteve de molho, só que a água de qualquer balde evapora ao longo de quatro meses.

E no varal, uma calcinha. Presa por um único prendedor, garantindo que o vento não a derrubasse, esperando secar para ser vestida naquele corpo novamente. E espera faz tanto tempo que a calcinha já está meio endurecida, empoeirada também, porto de chegada ou partida para teias de aranhas até a parede mais próximo ou o varal vizinho. Uma única calcinha, solitária, que até hoje eu não tinha reparado e fiquei compridos segundos olhando pra ela ali, pendurada, sem tocá-la, sem coragem pra recolhê-lha, pois não há mais armário para guardá-la, corpo para vestí-la.

A calcinha não sabe de nada, de nada. Mas ficou ali, parada num tempo que não existe mais.