segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

camiseta tua

Tá frio e eu não consigo imaginar nada melhor que ter você aqui. A chuva é impiedosa lá fora e o barulhinho que ela faz quando cai no telhado, casaria perfeitamente com a sua respiração calma e pesada no meu pescoço.
Meus pés estão gelados pelo banho e cobertor nenhum é capaz de esquentar tal qual tua pele de sol.
Tá frio e eu vesti uma camiseta tua, por que é o mais perto de ter você nessa noite.


sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

O celular toca e eu atendo:

Oi, minha filha.
Oi, vó. Bença.
Tá chorando?
Não.
Que voz é essa de quem tá chorando?
Não tô chorando.
Olha, eu tô vendo a sua cara. O que foi?
Um pouco aborrecida.
Tá vendo como eu conheço vocês?

E assim se deu daquelas conversas, das quais eu precisei dizer muito muito pouco, enquanto chorava baixinho do lado de cá da ligação. Minha avó é a única capaz de me aconselhar a ter mais serenidade e doçura e me fazer querer ouvir os conselhos dela.



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quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

Uma vez

Uma vez, amei até doer. E me doía na carne todos os dias.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

Sangue, suor e lágrimas

Ela foi fumar um cigarro na varanda enquanto ele ficou na cozinha e recolhia os cacos de vidros do copo que, mais cedo, fora arremessado na parede.
Nenhum dos dois era capaz de entender como um desentendimento tão inútil tomou proporções tão grandes. De repente, choviam acusações e as pequenas coisas que guardavam dentro de si escapavam boca à fora assim como os males do mundo escaparam da caixa de Pandora.
Eles não tinham coragem de se olhar, tamanha a vergonha da infantilidade cometida. Moravam juntos havia tão pouco tempo, tinha sido a primeira briga e ainda estavam aprendendo como viver em conjunto, mas a paciência realmente é uma virtude.
Ela apagou o cigarro, voltou para dentro de casa, pegou um pano e foi limpar a sujeira que ela mesmo tinha feito.
Distraída, descuidada, acabou cortando a mão num caco que ficara por ali.
O dedo minava sangue, mais do que esperava.
Silenciosamente, ele a direcionou para a pia, para lavar o ferimento e fazer um curativo.
Num impulso, ela se jogou nos braços dele e desabou em choro. Toda a raiva de antes, se transformou em angústia, aflição, tristeza. E tudo isso começou a vazar pelos olhos.
Ele a abraçou tão forte, que poderiam se fundir em um só. Nenhuma palavra foi dita.
Quando apartaram do abraço, minutos depois, a camiseta dele estava manchada das lágrimas e do sangue.
Mas tudo bem, no próximo passo da reconciliação, ela seria descartada mesmo. No final das contas, seria suor.


escambo

Eu era tratada como rainha. Tinha tudo o que quisesse. Presentes e mais presentes, passeios, agrados, palavras doces. Tudo era milimetricamente planejado para não me espantar, me causar desconforto ou qualquer outra coisa do gênero.
Mas, ao mesmo tempo, eu era tratada feito escrava. Escrava da situação, escrava dos favores, dos presentes, das gentilezas. Quando algo me era oferecido, não era exatamente o que eu queria, do jeito que queria. Era o que me podia ser dado. E eu nunca, nunca, em hipótese alguma, podia querer, por ventura, me rebelar, indignar. Sempre me era lembrado que "faço tudo o que posso por você, beiro o impossível, mas você sabe..." e assim sucedia uma infinidade de desculpas e justificativas que me causavam culpa por ser tão ingrata. E depois, eu era rainha de novo. Endeusada com promessas, me erguia num pedestal e jurava coisas absurdas (que só hoje sei o quão absurdas foram), ganhava mais meia dúzia de presentes, ouvia o que eu precisava ouvir e assim eu me vendia.
Tal qual uma escrava se vende ao seu senhor, trocando o mínimo por migalhas do que quer que seja.
Foi como usar uma coroa de espinhos.

sábado, 20 de fevereiro de 2016

Não ligar

Não há sono, nem fome, tampouco paciência.
Não há expectativa, qualquer tipo de anseio.
Tudo parece mera formalidade. Convenção.


sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

Burn

Ilustração: Henn Kim
"Os dois são muito intensos. E não sabem lidar com isso.
Quando se juntam, é feito bomba. Explodem."