quarta-feira, 30 de janeiro de 2019

Motivos pelos quais a gente acha muito difícil amar alguém em determinadas ocasiões mas acontecem excessões

É segunda-feira, dia mundial do mau humor.
É segunda-feira, 9 da manhã. Dia mundial do "queria estar dormindo".

Segunda-feira, 9 da manhã, eu já peguei dois ônibus. Reza a lenda que ninguém é feliz pegando dois ônibus por dia, antes das 7 horas.

Tenho bolhas de calos estourando nos dois pés. Cientificamente comprovado que a dor dos calos estourando mexe com o juízo do ser humano.

Aquela dorzinha de cabeça que me tira do sério, já começou, e eu tô bufando.

Mas, ainda assim, eu penso que não tem como a vida ser ruim. Só por ter você.

Hierarquia do desejo

Senti o cheiro daquele perfume e já sabia quem se aproximava. Olhei para trás e realmente era ela, não que eu não soubesse. Vinha distraída, cabeça baixa, vários cadernos e pastas nas mãos. Parei no meio do corredor e esperei que ela chegasse ainda mais perto.
Quando ela ergueu os olhos e me viu ali, sorriu tímida. 
Trabalhávamos na mesma escola: eu, professor; ela, supervisora. Desde que a vi pela primeira vez, foi impossível não me sentir atraído. Ainda que eu já estivesse noivo. Os olhares dela não negavam e todos percebiam.
Ela chegou mais perto, a passos lentos, como quem está com medo de se aproximar. Parou na minha frente, eu não resisti e a puxei para uma sala vazia.
Todo o material que estava em suas mãos caiu no chão e quanto ela tentou se abaixar para pegá-los, eu a segurei contra a parede com firmeza e delicadeza ao mesmo tempo.
Ela fechou os olhos e quando abriu, nossos rostos estavam praticamente colados, no que ela sussurrou:
"Eu sou sua supervisora e você é comprometido". 
Se soltou de mim, juntou o material no chão e saiu andando.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2019

Cama

Se a nossa cama falasse, contaria todo tipo de história.
Começaria com a nossa história completamente apaixonada, onde se despedir a cada noite era doloroso e assim íamos aos beijos, às juras, por muitas vezes provando do sabor um do outro, ainda tão novo e viciante, dado o nosso pouco tempo ainda juntos, até às 4 da manhã, trocando a noite pelo dia repetidamente.
Falaria das vezes que chegamos bêbados e dormimos profundo.
Todos os filmes e todos os episódios que assistimos.
As vezes que prometemos levantar cedo no dia seguinte e poucas vezes conseguimos cumprir.
Contaria das vezes que chorei copiosamente por mim mesma, às vezes por você, às vezes por nós. Algumas delas sem a sua presença.
Listaria os teus choros também! Sempre que te disse pra não segurá-los.
As confissões envergonhadas, os segredos compartilhados, piadas nem sempre boas.
Falaria do sexo muitas vezes animal, outras sagrado e cultuado como divindade. Silencioso ou barulhento. Embebido por vinho, por saudade, por medo de nos perder.
Acredito que nossa cama relembraria com certo azedume das vezes que dormimos sem dar boa noite por qualquer razão e nunca justificável.
Quando deitamos ouvindo música. Fazemos planos pra nós, filhos, carreira, viagens.
E quando você não sabe se vai ou se fica e a cama quer te dizer pra ficar, pois o peso é melhor equilibrado quando você tá junto. Mas a nossa cama não fala.
E ainda assim ela enumeraria todas as vezes que decidimos continuar. Que escolhemos continuar! E que escolhemos repousar nossas cabeças lado a lado, mesmo que naquele segundo não pareça ser o certo. E se orgulharia disso.
E por ser testemunha ocular, fiel, a única sabedora das verdades além de nós dois, acredito que quando o colchão for extremamente desconfortável, envelhecido como nós, ela aceitará que troquemos de cama. Ela saberá que somos capazes de nos refazer.