segunda-feira, 21 de janeiro de 2019

Cama

Se a nossa cama falasse, contaria todo tipo de história.
Começaria com a nossa história completamente apaixonada, onde se despedir a cada noite era doloroso e assim íamos aos beijos, às juras, por muitas vezes provando do sabor um do outro, ainda tão novo e viciante, dado o nosso pouco tempo ainda juntos, até às 4 da manhã, trocando a noite pelo dia repetidamente.
Falaria das vezes que chegamos bêbados e dormimos profundo.
Todos os filmes e todos os episódios que assistimos.
As vezes que prometemos levantar cedo no dia seguinte e poucas vezes conseguimos cumprir.
Contaria das vezes que chorei copiosamente por mim mesma, às vezes por você, às vezes por nós. Algumas delas sem a sua presença.
Listaria os teus choros também! Sempre que te disse pra não segurá-los.
As confissões envergonhadas, os segredos compartilhados, piadas nem sempre boas.
Falaria do sexo muitas vezes animal, outras sagrado e cultuado como divindade. Silencioso ou barulhento. Embebido por vinho, por saudade, por medo de nos perder.
Acredito que nossa cama relembraria com certo azedume das vezes que dormimos sem dar boa noite por qualquer razão e nunca justificável.
Quando deitamos ouvindo música. Fazemos planos pra nós, filhos, carreira, viagens.
E quando você não sabe se vai ou se fica e a cama quer te dizer pra ficar, pois o peso é melhor equilibrado quando você tá junto. Mas a nossa cama não fala.
E ainda assim ela enumeraria todas as vezes que decidimos continuar. Que escolhemos continuar! E que escolhemos repousar nossas cabeças lado a lado, mesmo que naquele segundo não pareça ser o certo. E se orgulharia disso.
E por ser testemunha ocular, fiel, a única sabedora das verdades além de nós dois, acredito que quando o colchão for extremamente desconfortável, envelhecido como nós, ela aceitará que troquemos de cama. Ela saberá que somos capazes de nos refazer.

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