Definição de um orgasmo:
"Meu corpo tá todo dormente, mas ao mesmo tempo tem fogos de artifício estourando na minha nuca, sem parar."
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Antigo Nem Metade. Se você resolver ler todo o blog e perceber a grande mudança nos textos depois de uma longa pausa na escrita, a razão é que, nesse meio tempo, mudei. É bem simples, na verdade. Não quis me desfazer dos textos antigos por que não quero me desfazer de quem eu fui. Espero que goste, do novo e do velho. Haverá contos, crônicas, poemas, histórias sobre meus gatos e o que mais vier nessa conversa.
sábado, 30 de janeiro de 2016
Fogos de artifício
sexta-feira, 22 de janeiro de 2016
reflexo
A necessidade de lavar o rosto a todo instante parece que virou uma espécie de toc. Se sente suja e precisa se limpar, se limpar, se limpar, se limpar.
A parte mais difícil é encarar o reflexo no espelho do banheiro. Ver olhos fundos, olheiras roxas, cenho franzido em desgosto, boca numa linha fina de amargura.
Ignorar o reflexo não é fácil. Ele fala.
Olha pra esse nó aqui na garganta. Você tá vendo o que tem feito comigo?
Com você? Mas você sou eu. Cala a boca.
E uma vez mais, o choro é engolido. Não é permitido que caia uma mísera lágrima. Chega a doer no peito, na garganta. O ar entra com muita dificuldade, o pulmão não está satisfeito.
Talvez seja o cigarro.
As pernas tremem, a visão fica turva.
Lava o rosto mais uma vez.
Lava lava lava lava.
Enxuga com força.
Machuca a pele.
Olhos nos olhos no espelho.
Olheiras mais roxas, mandíbula travada.
Foi possuída.
Pela vontade de nunca transparecer.
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quinta-feira, 14 de janeiro de 2016
bom dia
Dormem juntos e ele sempre acorda antes. A abraça pelas costas e cheira seu pescoço, encaixa seu corpo no dela e lhe beija a curva do pescoço. Ela acorda, mas fica quieta, apenas aproveitando.
Ele a puxa para mais perto e espera uma reação. Ela entrelaça seus dedos nos dele e adormece novamente.
Acorda outra vez sentindo o carinho por toda a extensão do seu corpo. Pernas, bunda, costas, braços... Até que ela se vira de frente pra ele e finalmente tocam os lábios. Se beijam com delicadeza e firmeza, ao mesmo tempo. Com saudade, como se a noite fosse tempo longe demais um do outro, mesmo que juntos.
Não dizem uma só palavra, apenas porque não é preciso.
O tesão da manhã derrama por todos os lados e se perde pelo quarto junto com possíveis pijamas.
Os carinhos, antes suaves, agora são urgentes e precisos. Sabem onde estimular, como provocar, como fazer faltar o ar.
Se existe forma do dia começar melhor, com certeza eles descobrirão.
sexta-feira, 8 de janeiro de 2016
Como uma luva
Quão longe você já foi por homens que nunca puseram seus pés no colo?
Quantas vezes você já fez escambo com os ossos pra depois se vender barato?
Por que você acha o indisponível tão atraente?
Quando foi que isso começou, onde você errou, quem te fez sentir tão inútil?
Se quisessem você, não teriam te escolhido?
O tempo todo você estava implorando amor em silêncio, pensando que pudessem te ouvir, mas sentiram o cheiro; você devia ter percebido que sua pele fedia a desespero?
E os outros, aqueles que fariam tudo por você - por que você fez com que te amassem até que você não conseguisse mais aguentar?
Como você consegue ser essas duas mulheres, a instável e a fundamental?
Onde você aprendeu a querer o que não te quer?
Onde você aprendeu a ir embora de quem quer ficar?
Warsan Shire
quinta-feira, 7 de janeiro de 2016
janela
É sempre essa janela que me segura.
É nela que me sento. É dela que olho o pedaço de céu, entre o muro e o telhado, e a sombra do gato que passeia por cima do teto dos vizinhos.
É nessa janela que eu viro a noite.
A noite inteira em claro. Tragando vinte cigarros, um atrás do outro, como se me aliviassem tanta angústia.
É nessa janela que eu choro sozinha, quietinha, no breu da casa quieta.
É nessa janela que eu penso e repenso e não penso em porra nenhuma. Não chego a conclusão nenhuma. O medo não vai embora, a aflição não passa, o aperto não diminui.
É daqui dessa janela, onde bate um vento frio de madrugada, que não tem muita coisa que realmente importa, no fim das contas.
sábado, 2 de janeiro de 2016
Queria saber
Queria saber se um dia isso vai passar. Se vou esquecer, se vou aliviar neu coração de vez. Queria saber se minha mente vai engavetar os acontecimentos, como um arquivo velho. Queria saber se vou deixar de sentir esse aperto na alma toda vez que me lembro. Queria saber se vou deixar de ficar triste quando fico sozinha. Queria saber se a insônia vai embora, se a falta de fome também vai. Queria saber se vou deixar de sentir arrependimento pra sentir, única e exclusivamente, indiferença.
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