O calor é insuportável. O quarto é quente e abafado. O contato do lençol na pele faz pinicar. A pouca roupa de pijama incomoda.
O pobre ventilador não dá conta do recado, embora o ambiente seja minúsculo e a temperatura da noite caia e se torne mais amena, na teoria, e a janela esteja aberta na esperança de uma brisa que nunca vem.
O corpo dela é sempre morno, menos durante a gripe, quando ele esfria. No mais, constantemente morno.
O dele é quente. Perfeito para os dias frios, quando deitar no peito nu é absurdamente aconchegante. Quente como o sangue de um cavalo. Febril. Constantemente febril.
Quando se deitam para dormir, é impossível que durmam abraçados, como sentem vontade. O suor escorre pelas dobras das pernas e braços, escorre onde as peles se tocam, se grudam. O cabelo comprido precisa estar preso pra poupar a sensação de enforcamento pelos fios que colam no pescoço.
Ela se encosta na parede fria e ele chuta o cobertor desnecessário pra longe.
Mas para se fazerem presente um ao outro, os pés se tocam.
Sempre.