quarta-feira, 5 de outubro de 2016

Como criança que precisa que o pai leia estórias na hora de dormir, sou eu.
Como criança que não se aquieta e se comporta e precisa de algo que cative sua atenção, sou eu.
A diferença é de que a estória que preciso não é fantasiosa, com dragões ou robôs, ou heróis, ou princesas, ou fadas, ou gigantes.
A história que eu preciso ouvir é verdadeira e não aconteceu em um reino distante.
Aconteceu aqui, com testemunhas. Há quem prove.

A questão é: não tenho quem me conte.

E igual criança sem estória na hora de dormir, eu me inquieto e vejo o sol entrar pelas frestas da janelas todos os dias.

sábado, 27 de agosto de 2016

Amor é tudo o que a gente achava que não era e era. É tudo o que a gente achava que não faria a acaba fazendo ou tudo o que a gente achava que faria sim mas não faz nada. É um eterno cuspir pra cima.
É que nem quem não é mãe e diz que quando tiver filho, ele não vai fazer birra no supermarcado.
Meus caros, o amor é o menino birrento no chão do mercado e você olhando de mão na cintura pensando que puta merda não era nada disso que eu tinha planejado.
Tu pensa "bem, vou dar uma mãozinha aqui nesse negócio e só" o amor vem e leva o braço inteiro.
É um aluno de humanas que resolveu que vai desconstruir seus paradigmas.
E tu não vai nem lutar contra, por que vai estar arriada, de perna aberta mesmo e não tá nem aí. Quando vê, já foi.
E aí você é refém de si mesmo, das palavras, das crenças de outrora, de atitudes que jurava poder sustentar. E o cuspe cai no olho. Com um pouco de sorte, só na testa.
Depois desse reboliço do dianho, depois de te desmontar todinho, o amor diz "agora tu se vira".
E aí tu tem que se montar de novo.
Mas sabem aqueles ouriços onde vem as castanhas dentro? Dizem que quando se abre uma daquela, nunca mais fecha igual, nem tirando, nem pondo castanha, nem de jeito nenhum.
Depois do amor, a gente fica feito ouriço de castanha que nunca mais é igual.

segunda-feira, 8 de agosto de 2016

Entre um móvel e outro carregado pra fora, sento e tento absorver todos os acontecimentos das últimas semanas. Como tudo chegou a este ponto? Como tanta coisa boa se perdeu e agora é poeira num quarto vazio?
Achei que nada ficaria aqui. Cuidei para que nada ficasse pra trás, me remetendo ao martírio do que é bom e não volta. Eu não saberia lidar.
Onde foi que eu perdi o controle de tanta coisa ao mesmo tempo?
A vida é sacana, o universo não tem pena. Se cada parede dessa falasse, teriam me dito: olha pro chão, seu esforço todinho foi em vão.
Não precisaram dizer.
Um barquinho de papel, escrito teu nome de um lado e o meu do outro, jogado num canto. Como quem diz: aqui afundou.

quinta-feira, 28 de julho de 2016


de manhã

é mais complicado de manhã, logo que eu acordo
e tenho acordado antes do despertador
dormido cada vez mais tarde e acordado cada vez mais cedo
é mais complicado de manhã, quando eu abro os olhos e sou atacada pela minha consciência
mas depois de um banho e dois ônibus, eu quase esqueço
é bem mais tranquilo, quase fácil
até o outro dia de manhã, logo que eu acordo

segunda-feira, 23 de maio de 2016

sombra

A sina de viver às sombras de outro.


terça-feira, 10 de maio de 2016

Regressão

Parece que depois de uma guinada, eu voltei a regredir. Emocional, psicologica, social e amorosamente.
Os velhos hábitos, que achei ter abandonado, me puxam de volta com tanta violência que machuca.
E de novo, como antes, eu só quero voltar pra casa.


domingo, 8 de maio de 2016

Falta II

Sinto falta de quando me tocava com carinho e teus olhos conversavam com os meus tão facilmente.
De quando não precisava fugir, se esconder e teu corpo não tinha paz no meu. Mas tua alma tinha.
Sinto falta de quando se sentia tão bem a ponto de não precisar de mais ninguém e me querer só pra ti e te queria só pra mim. Quando você queria ser só pra mim.
Sinto falta de todas essas coisas eu idealizei e existiram perfeita e tranquilamente só dentro do meu universo.
O que esperar de uma mente destruída?


sexta-feira, 6 de maio de 2016

quinta-feira, 5 de maio de 2016

sexta-feira, 22 de abril de 2016

de obcecada a totalmente desinteressada: eu só preciso de um dia

quinta-feira, 21 de abril de 2016

Não tem mais jeito, acabou. Boa sorte

A hora de deixar pra trás.
É engraçado como a gente se recusa a desligar de coisas e pessoas. Dificilmente sabemos determinar que a partir de algum ponto em questão, não cabem mais na vida que a gente leva agora.
Insistimos em querer manter pessoas que só foram boas - se é que foram (doloroso, né?) - no nosso passado e hoje não cabem mais, não tem mais lógica.
Insistimos em manter uma roupa no armário e ninguém nem usa mais.
Quando paro pra pensar em quantas vezes eu pedi "por favor, não some, não se afasta, continuaremos amigos", bem... Se isso fosse, de fato, funcionar, eu não precisaria estar pedindo. Simplesmente aconteceria. Aí eu me martirizo "puta merda, só sendo muito burra".
Mas o ser humano é bicho estúpido, gosta de alimentar o que já tá morto, o que tá nas últimas e sem chance de retorno.
Se fosse pra ser, era! Se não é mais, larga mão, caceta!
Toca o enterro, Inês tá morta. Fazer o que?
Viver batendo numa tecla estragada, dando murro em ponta de faca machuca tanto...
Que é difícil, é difícil que só a porra, mas agir em sã estupidez deliberadamente é o prefiro 🌟 morta.
Não quero permear a cabeça de ninguém que não esteja comigo, em qualquer sentido que seja. E também não quero isso pra mim. Não quero insistir, lutar por causa perdida, viver por algo que já não me pertence mais, quiçá um dia foi meu.
Mas abre a cabecinha pra botar essa idéia todinha lá dentro, que eu quero ver.


domingo, 17 de abril de 2016

10

Sobre a chegada do décimo mês:

"Ah... dá certo porque ela ri de tudo. É a imbecil perfeita."


sexta-feira, 15 de abril de 2016

e se todas as divergências fossem resolvidas com uma batalha?

"que batalha?"

"de beijos"

"como vamos definir quem perde?"

"quem cansar primeiro, perde"

"amor, vamo definhar"

"é guerra"

"então que comece o bagaço"

quarta-feira, 6 de abril de 2016

sinto tanto que o que tenha conhecido de mim seja só uma sombra do que já fui.
se eu soubesse, teria guardado tudo de mim pra ti.
e hoje não lidaria com restos quase mortais.

terça-feira, 5 de abril de 2016

Não sei o que é pior: se pensar em tudo ao mesmo tempo que não consigo focar ou concentrar em nada. Assistir um episódio inteiro sem prestar atenção e depois me dar conta que nem sei no que eu tava pensando quando me distraí.
Se é mais difícil descobrir o que me inquieta tanto, ou se ficar projetando culpa nas outras pessoas e depois absorvê-la toda pra mim. Não sei se o pior é ficar sem dormir e sentir o cansaço me sugar ou ficar sem comer e sentir a fraqueza tirar todo o meu ânimo.
É pior o nó na garganta de um choro que eu não consigo fazer descer ou fazer descer e depois não conseguir parar?
É horrível o sentimento de solidão e abandono, mas é pior ainda quando me sinto sufocada por quem me ama e eu simplesmente não consigo achar um meio-termo.
Falando em sufocamento, o ar não entra. Não importa o quanto eu inspire. Às vezes, coloco o dedo embaixo do nariz pra ter certeza se tô respirando.
Não lembro qual foi a última vez que ouvi meu coração bater, a última vez que senti (o dele eu sinto tão fácil quando ele tá deitado no meu peito, ou eu no dele, ou quando eu simplesmente coloco a mão... chega a ser invejável).
É terrível a sensação de morte. Em todos os sentidos possíveis da palavra, da situação...
É difícil ter que sair da cama, sair do quarto, sair de casa. Conversar, ouvir, sorrir.
Não sei se é pior sentir que tô apagando devagarzinho ou se torcer pra dar black out.

quinta-feira, 31 de março de 2016

Tira

Eu ainda me vendo, me ofereço, me entrego. No menor lampejo de esperança, eu abro as pernas, me dou. Quanto mais abaixa, mais a bunda aparece.
Depois, ah depois... Eu perco tudo de novo. A paz, o amor, o sono. Me arranca tudo das mãos, arranca tudo do peito.
Me tira o que eu nunca tive.
Tu.


sexta-feira, 25 de março de 2016

Sentir

Há momentos em que eu simplesmente quero parar de sentir. Tudo e qualquer coisa, por que o barulho da mente é pavoroso.
Em outros, eu queria voltar a sentir como antes, só pra ter certeza que tô viva.


sexta-feira, 18 de março de 2016

Falta

Essa distância silenciosa disfarçada de liberdade, um incômodo que ninguém parece fazer questão de consertar.
Aparentemente, tudo está perfeito, bem... Mas sabemos que não. O cuidado ficou escasso e todo o resto é desimportante. As prioridades são outras.
Deixamos que esse convívio - ou a falta dele - possa quase nos destruir.
E nos percamos dia após dia.
Sem chance de reencontro.


segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

camiseta tua

Tá frio e eu não consigo imaginar nada melhor que ter você aqui. A chuva é impiedosa lá fora e o barulhinho que ela faz quando cai no telhado, casaria perfeitamente com a sua respiração calma e pesada no meu pescoço.
Meus pés estão gelados pelo banho e cobertor nenhum é capaz de esquentar tal qual tua pele de sol.
Tá frio e eu vesti uma camiseta tua, por que é o mais perto de ter você nessa noite.


sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

O celular toca e eu atendo:

Oi, minha filha.
Oi, vó. Bença.
Tá chorando?
Não.
Que voz é essa de quem tá chorando?
Não tô chorando.
Olha, eu tô vendo a sua cara. O que foi?
Um pouco aborrecida.
Tá vendo como eu conheço vocês?

E assim se deu daquelas conversas, das quais eu precisei dizer muito muito pouco, enquanto chorava baixinho do lado de cá da ligação. Minha avó é a única capaz de me aconselhar a ter mais serenidade e doçura e me fazer querer ouvir os conselhos dela.



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quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

Uma vez

Uma vez, amei até doer. E me doía na carne todos os dias.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

Sangue, suor e lágrimas

Ela foi fumar um cigarro na varanda enquanto ele ficou na cozinha e recolhia os cacos de vidros do copo que, mais cedo, fora arremessado na parede.
Nenhum dos dois era capaz de entender como um desentendimento tão inútil tomou proporções tão grandes. De repente, choviam acusações e as pequenas coisas que guardavam dentro de si escapavam boca à fora assim como os males do mundo escaparam da caixa de Pandora.
Eles não tinham coragem de se olhar, tamanha a vergonha da infantilidade cometida. Moravam juntos havia tão pouco tempo, tinha sido a primeira briga e ainda estavam aprendendo como viver em conjunto, mas a paciência realmente é uma virtude.
Ela apagou o cigarro, voltou para dentro de casa, pegou um pano e foi limpar a sujeira que ela mesmo tinha feito.
Distraída, descuidada, acabou cortando a mão num caco que ficara por ali.
O dedo minava sangue, mais do que esperava.
Silenciosamente, ele a direcionou para a pia, para lavar o ferimento e fazer um curativo.
Num impulso, ela se jogou nos braços dele e desabou em choro. Toda a raiva de antes, se transformou em angústia, aflição, tristeza. E tudo isso começou a vazar pelos olhos.
Ele a abraçou tão forte, que poderiam se fundir em um só. Nenhuma palavra foi dita.
Quando apartaram do abraço, minutos depois, a camiseta dele estava manchada das lágrimas e do sangue.
Mas tudo bem, no próximo passo da reconciliação, ela seria descartada mesmo. No final das contas, seria suor.


escambo

Eu era tratada como rainha. Tinha tudo o que quisesse. Presentes e mais presentes, passeios, agrados, palavras doces. Tudo era milimetricamente planejado para não me espantar, me causar desconforto ou qualquer outra coisa do gênero.
Mas, ao mesmo tempo, eu era tratada feito escrava. Escrava da situação, escrava dos favores, dos presentes, das gentilezas. Quando algo me era oferecido, não era exatamente o que eu queria, do jeito que queria. Era o que me podia ser dado. E eu nunca, nunca, em hipótese alguma, podia querer, por ventura, me rebelar, indignar. Sempre me era lembrado que "faço tudo o que posso por você, beiro o impossível, mas você sabe..." e assim sucedia uma infinidade de desculpas e justificativas que me causavam culpa por ser tão ingrata. E depois, eu era rainha de novo. Endeusada com promessas, me erguia num pedestal e jurava coisas absurdas (que só hoje sei o quão absurdas foram), ganhava mais meia dúzia de presentes, ouvia o que eu precisava ouvir e assim eu me vendia.
Tal qual uma escrava se vende ao seu senhor, trocando o mínimo por migalhas do que quer que seja.
Foi como usar uma coroa de espinhos.

sábado, 20 de fevereiro de 2016

Não ligar

Não há sono, nem fome, tampouco paciência.
Não há expectativa, qualquer tipo de anseio.
Tudo parece mera formalidade. Convenção.


sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

Burn

Ilustração: Henn Kim
"Os dois são muito intensos. E não sabem lidar com isso.
Quando se juntam, é feito bomba. Explodem."


sábado, 30 de janeiro de 2016

Fogos de artifício

Definição de um orgasmo:

"Meu corpo tá todo dormente, mas ao mesmo tempo tem fogos de artifício estourando na minha nuca, sem parar."



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sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

reflexo

A necessidade de lavar o rosto a todo instante parece que virou uma espécie de toc. Se sente suja e precisa se limpar, se limpar, se limpar, se limpar.
A parte mais difícil é encarar o reflexo no espelho do banheiro. Ver olhos fundos, olheiras roxas, cenho franzido em desgosto, boca numa linha fina de amargura.
Ignorar o reflexo não é fácil. Ele fala.
Olha pra esse nó aqui na garganta. Você tá vendo o que tem feito comigo?
Com você? Mas você sou eu. Cala a boca.
E uma vez mais, o choro é engolido. Não é permitido que caia uma mísera lágrima. Chega a doer no peito, na garganta. O ar entra com muita dificuldade, o pulmão não está satisfeito.
Talvez seja o cigarro.
As pernas tremem, a visão fica turva.
Lava o rosto mais uma vez.
Lava lava lava lava.
Enxuga com força.
Machuca a pele.
Olhos nos olhos no espelho.
Olheiras mais roxas, mandíbula travada.
Foi possuída.
Pela vontade de nunca transparecer.



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quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

bom dia

Dormem juntos e ele sempre acorda antes. A abraça pelas costas e cheira seu pescoço, encaixa seu corpo no dela e lhe beija a curva do pescoço. Ela acorda, mas fica quieta, apenas aproveitando.
Ele a puxa para mais perto e espera uma reação. Ela entrelaça seus dedos nos dele e adormece novamente.
Acorda outra vez sentindo o carinho por toda a extensão do seu corpo. Pernas, bunda, costas, braços... Até que ela se vira de frente pra ele e finalmente tocam os lábios. Se beijam com delicadeza e firmeza, ao mesmo tempo. Com saudade, como se a noite fosse tempo longe demais um do outro, mesmo que juntos.
Não dizem uma só palavra, apenas porque não é preciso.
O tesão da manhã derrama por todos os lados e se perde pelo quarto junto com possíveis pijamas.
Os carinhos, antes suaves, agora são urgentes e precisos. Sabem onde estimular, como provocar, como fazer faltar o ar.
Se existe forma do dia começar melhor, com certeza eles descobrirão.


sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

Como uma luva

Perguntas para a mulher que eu era ontem à noite (a conversa honesta).
Quão longe você já foi por homens que nunca puseram seus pés no colo?
Quantas vezes você já fez escambo com os ossos pra depois se vender barato?
Por que você acha o indisponível tão atraente?
Quando foi que isso começou, onde você errou, quem te fez sentir tão inútil?
Se quisessem você, não teriam te escolhido?
O tempo todo você estava implorando amor em silêncio, pensando que pudessem te ouvir, mas sentiram o cheiro; você devia ter percebido que sua pele fedia a desespero?
E os outros, aqueles que fariam tudo por você - por que você fez com que te amassem até que você não conseguisse mais aguentar?
Como você consegue ser essas duas mulheres, a instável e a fundamental?
Onde você aprendeu a querer o que não te quer?
Onde você aprendeu a ir embora de quem quer ficar?

Warsan Shire

quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

janela

É sempre essa janela que me segura.
É nela que me sento. É dela que olho o pedaço de céu, entre o muro e o telhado, e a sombra do gato que passeia por cima do teto dos vizinhos.
É nessa janela que eu viro a noite.
A noite inteira em claro. Tragando vinte cigarros, um atrás do outro, como se me aliviassem tanta angústia.
É nessa janela que eu choro sozinha, quietinha, no breu da casa quieta.
É nessa janela que eu penso e repenso e não penso em porra nenhuma. Não chego a conclusão nenhuma. O medo não vai embora, a aflição não passa, o aperto não diminui.
É daqui dessa janela, onde bate um vento frio de madrugada, que não tem muita coisa que realmente importa, no fim das contas.


sábado, 2 de janeiro de 2016

Queria saber

Queria saber se um dia isso vai passar. Se vou esquecer, se vou aliviar neu coração de vez. Queria saber se minha mente vai engavetar os acontecimentos, como um arquivo velho. Queria saber se vou deixar de sentir esse aperto na alma toda vez que me lembro. Queria saber se vou deixar de ficar triste quando fico sozinha. Queria saber se a insônia vai embora, se a falta de fome também vai. Queria saber se vou deixar de sentir arrependimento pra sentir, única e exclusivamente, indiferença.



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