terça-feira, 28 de abril de 2015

dentro de nós


Você não escutou quando eu falei. Nem viu quando meus olhos vidravam olhando o nada e piscavam quase soletrando pedidos de socorro . Não percebeu meus movimentos carregados de angústia e aflição. Não viu quando eu caí e desisti de manter a postura.
Eu não devia esperar tanto de onde poderia vir tão pouco.
Sei que devia ter aprendido a separar onde eu cabia e onde eu me encaixava. Você sabe, caber e encaixar são coisas diferentes...
É triste, eu sinto isso tanto quanto você. 
Partir é dilacerar meu coração. Arrebentá-lo em um trilhão de pedacinhos e depois pisotear todos esses pedaços, cuspir em cima e deixar que o vento os leve pra bem longe do meu corpo.
Partir não é só deixar você. Partir é me deixar também. 
Me perco no processo. 
Não há culpado nem pelas causas e nem pelas consequências. Nosso erro foi um só e foi o maior acerto até então. 
Terminamos agora.
Mas ainda continuamos para sempre. Dentro de nós.

segunda-feira, 20 de abril de 2015

amores impossíveis

Queira alguém que, além de te querer, possa estar com você. Alguém que possar estar para você. Queira alguém que pode te levar ao cinema ou a praça. Alguém que te olhe nos olhos sem precisar desviar o olhar, alguém que não tenha medo de segurar sua mão em público. Alguém que no meio de um mar de gente, olhe só pra você. Alguém que possa ser seu.
Amores impossíveis tem todo o seu charme e emoção. São bons. Mas cansam.

quinta-feira, 16 de abril de 2015

nudez

Toda noite, tiro os brincos.
Tiro os anéis.
Tiro o colar e as pulseiras.
E a diadema do cabelo.
Me desfaço da roupa que visto

de corpo nu, adormeço de alma despida.


segunda-feira, 13 de abril de 2015

morzi



A vida lhe ensinou tudo. Tudo do bom, tudo do ruim. Às vezes, foi boa, às vezes, terrivelmente cruel.
Sempre só, carregava o mundo nos ombros. Nunca teve alguém que lhe segurasse a mão e apontasse o caminho. Precisava de sorte.
Desde tão nova, ela estava abandonada. Foi crescendo e ganhando marcas na alma, no coração e no corpo.
Algumas marcas estão abertas até hoje. Existem buracos que não se fecham e doem sempre que venta mais frio. Essas marcas ninguém enxerga. Teimosa que só ela pode ser, prefere se resguardar e esconder tudo dos outros.
Das marcas físicas, eu adoraria cobrir todo o pulso esquerdo com as mais lindas pulseiras desse universo, para que ela nunca mais precisasse olhar pr'aquelas linhas brancas na pele.
Dona de uma alma absurdamente sensível, é uma artista nata. Transborda poesia. Escreve com o coração.
Dona de longos cabelos pretos que emolduram seus olhos tão expressivos, tão falantes, olhos de coruja-cigana.
Sempre caio em repetição em dizer-lhe que estarei aqui para ela, sempre. Nenhum fardo será pesado demais para ela, desde que divida comigo.
Sempre que olho nesses olhos vejo além da dor, do sofrimento, da solidão, da desilusão e todo desamor já sofrido.
Vejo amor saindo pelos poros. Vejo tanta ansiedade por paz de espírito...
Vejo alguém que quer ser amada e ser feliz e dar a alguém tudo o que não teve.

Há de ter, morzi. Você será completa. Feliz. A mais feliz que haverei de conhecer. É de longe a pessoa que eu mais admiro e amo nesse mundo. Teu futuro é brilhante. Te amo.




Ilustração: Amanda Roosevelt

sábado, 11 de abril de 2015

despedida

A música é lenta e toca no mesmo compasso do meu coração nesse instante.
E é triste feito o teu olhar.
Longa feita a nossa conversa.
As notas são harmoniosas como eu e você, mas ao contrário de nós, ainda funcionam bem quando juntas.
Ela é o som da nossa despedida.