A necessidade de lavar o rosto a todo instante parece que virou uma espécie de toc. Se sente suja e precisa se limpar, se limpar, se limpar, se limpar.
A parte mais difícil é encarar o reflexo no espelho do banheiro. Ver olhos fundos, olheiras roxas, cenho franzido em desgosto, boca numa linha fina de amargura.
Ignorar o reflexo não é fácil. Ele fala.
Olha pra esse nó aqui na garganta. Você tá vendo o que tem feito comigo?
Com você? Mas você sou eu. Cala a boca.
E uma vez mais, o choro é engolido. Não é permitido que caia uma mísera lágrima. Chega a doer no peito, na garganta. O ar entra com muita dificuldade, o pulmão não está satisfeito.
Talvez seja o cigarro.
As pernas tremem, a visão fica turva.
Lava o rosto mais uma vez.
Lava lava lava lava.
Enxuga com força.
Machuca a pele.
Olhos nos olhos no espelho.
Olheiras mais roxas, mandíbula travada.
Foi possuída.
Pela vontade de nunca transparecer.
Posted via Blogaway
Antigo Nem Metade. Se você resolver ler todo o blog e perceber a grande mudança nos textos depois de uma longa pausa na escrita, a razão é que, nesse meio tempo, mudei. É bem simples, na verdade. Não quis me desfazer dos textos antigos por que não quero me desfazer de quem eu fui. Espero que goste, do novo e do velho. Haverá contos, crônicas, poemas, histórias sobre meus gatos e o que mais vier nessa conversa.
sexta-feira, 22 de janeiro de 2016
reflexo
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