quarta-feira, 30 de janeiro de 2019

Hierarquia do desejo

Senti o cheiro daquele perfume e já sabia quem se aproximava. Olhei para trás e realmente era ela, não que eu não soubesse. Vinha distraída, cabeça baixa, vários cadernos e pastas nas mãos. Parei no meio do corredor e esperei que ela chegasse ainda mais perto.
Quando ela ergueu os olhos e me viu ali, sorriu tímida. 
Trabalhávamos na mesma escola: eu, professor; ela, supervisora. Desde que a vi pela primeira vez, foi impossível não me sentir atraído. Ainda que eu já estivesse noivo. Os olhares dela não negavam e todos percebiam.
Ela chegou mais perto, a passos lentos, como quem está com medo de se aproximar. Parou na minha frente, eu não resisti e a puxei para uma sala vazia.
Todo o material que estava em suas mãos caiu no chão e quanto ela tentou se abaixar para pegá-los, eu a segurei contra a parede com firmeza e delicadeza ao mesmo tempo.
Ela fechou os olhos e quando abriu, nossos rostos estavam praticamente colados, no que ela sussurrou:
"Eu sou sua supervisora e você é comprometido". 
Se soltou de mim, juntou o material no chão e saiu andando.

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