sábado, 19 de julho de 2014

"Não tenho obrigação de resolver os problemas sociais do mundo"

Sempre fui apaixonada por gatos. Desde que me entendo por gente, não me lembro de uma vez que não tivesse um bichano em casa. A máxima é da minha mãe: "Quando eu cheguei da maternidade com você, a gata de casa também tinha parido. Ela te amava, vivia no berço com você. Quando eu via a Anastácia correndo pro seu quarto, eu podia ir atrás, por que você tinha acordado."
Há quase três anos comecei a fazer com mais intensidade o que fiz a vida toda, que é pegar gato de rua e levar pra casa. Já deixei minha família louca, minha mãe, coitada, a beira de um colapso. Mas agora eu resgato, levo pra casa, cuido, e quando saudáveis, eu procuro um novo lar pro resgatinho, como eu chamo. Digo que sou uma ONG de uma pessoa só, financiada pelo meus pais. Às vezes tenho ajuda das ONGs da cidade, ou então quem ajuda sou eu, e a gente vai levando. 
Onde eu quero chegar é: eu nunca quis mudar o mundo com isso. Talvez até houvesse esse desejo no meu subconsciente, mas sabe? a gente sabe que não vai acontecer, ainda mais sozinho, e com gente faz/pensa que nem fizeram comigo. Disseram pra eu parar, por que eu não mudaria o mundo. Acredito que o mundo é composto por partes. Não digo o mundo físico, digo o mundo sociedade, a humanidade. Eu sou uma parte, você é outra parte, os vizinhos também e nós estamos interligados de alguma forma. Se todos fizessem um pouquinho, seria maravilhoso. Já imaginou? Se a Dona Maria não abandonasse os gatinhos que a gata dela pariu, se o Seu Zé não embolsasse o troco que recebeu a mais, e se o João não furasse fila. São coisas pequenas, mas fazem muita diferença. Isso faz o mundo mudar.´É clichê mas é real. Se todo mundo fizesse a sua parte, um pouquinho, isso aqui estaria diferente.
Estou falando disso por causa de algo que me aconteceu essa semana. Uma moça, que infelizmente deve ter uma visão deturpada de realidade disse isso: "Não tenho obrigação de resolver os problemas sociais do mundo." Catou duas gatinhas e levou pra casa, depois resolveu que não queria mais, "não aguentava mais, e estava de saco cheio". Claro que tem obrigação. Obrigação de fazer o que lhe compete. Todos têm. Mas são pessoas assim que fazem a gente regredir. "A gente" como sociedade.
Tenho muito amor no que faço, e não vejo que seja mais que minha obrigação ajudar criaturas tão pequenas e indefesas que precisam dos meus cuidados.
É importante ter a consciência sensível e achar que ainda é capaz de fazer algo bom, mesmo em meio a tantas pessoas com a consciência amortecida. E eu me sinto assim. E quero continuar assim, não só com os meus resgatinhos, mas a tudo que me cabe.

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