domingo, 7 de setembro de 2014

A tristeza, ela aparece mesmo nos olhos da gente?

Onde trabalho, lido diretamente com pessoas. É um comércio. Vejo pessoas de todos os tipos. Educadas, grosseiras, simpáticas, mal encaradas. Aprendi que a maneira como alguém se veste, se arruma e anda por aí, não está de forma alguma ligado à quantidade de dinheiro que tem no bolso ou o limite do cartão de crédito. Aprendi que nem todo mundo vai responder o meu bom dia com a mesma cordialidade que lhe dei. Que muita gente, mais do que eu ou você possamos imaginar, precisa de um bom dia acompanhado de um sorrir para sentir que é visto, notado, que é alguém também. Já vi de tudo. Alguns são mais falantes. Perguntam sobre tudo, falam sobre o tempo, a novela, o jogo de futebol ou comentam sobre os gatos que perambulam livremente pelo escritório. Outros não dão brecha para o mínimo de liberdade. Vi casais discutirem na minha frente na tentativa de chegarem a uma decisão, mas também vi muitos olhares cheios de amor e carinho.Tem gente que nem agradece quando atendo e lhe dou a informação solicitada. Alguns perguntam meu nome, minha idade, se estudo, a quanto tempo trabalho ali, se gosto muito de gato e etc etc etc. Acho até que no quesito "lidar bem com pessoas" já estou preparada para ser jornalista.
Sobre essas pessoas que falam muito, que se dão liberdade e não tem receio, passei a ficar com um pé atrás depois de certo acontecimento.
Problemas, todo mundo tem.
Cada qual com o seu fardo.
Cada um que carregue sua cruz. 
Comigo não haveria de ser diferente. Era uma fase difícil. Estava afetada por uma eminente separação dos meus pais e essa era só a ponta do iceberg, por assim dizer. 
Poucas pessoas sabem quando não estou realmente bem, faço o máximo para não transparecer. Não quero ninguém envolvido no que é meu. Pelo jeito, faço muito mal.
Um homem alto, em torno de 45 anos de idade, bastante forte chegou no escritório e o atendi como faço com todo mundo. 
Ficou por ali, puxou conversa à toa. Pegou um dos gatos no colo. Atendeu um telefone. Reclamou do calor e ficou sentado embaixo do ar-condicionado.
Nesse meio tempo, recebi uma ligação da minha mãe, que me fez algumas perguntas e todas foram respondidas de forma evasiva. Quando desliguei o telefone, o homem perguntou meu nome, sentou de frente pra mim e começou:
"Marinara, veja bem. Você sorri, mas não sorri com a alma. Você é tão bonita. O que acontece? Levanta os ombros. Te ajeita. Você só vai ficar bem quando colocar toda essa amargura de lado, todo esse rancor. Se você ainda não tiver doente, sinto muito, mas vai ficar. Isso faz muito mal, pra você, pra sua mãe. Sua mãe é uma mulher incrível, e ela é quem conduz essa família, ela manda. Só ela. E você precisa ser o braço direito dela. Arruma sua postura, você não vai cair, tem uma luz tão forte, o mundo não tá nos seus ombros. Pensa mais em você, e sorria. Mas sorri de verdade."
Quando ele terminou de falar, eu não sabia o que dizer. Meus olhos estavam mais arregalados do que de costume. Sentia vontade de chorar por alguém me dizer aquelas coisas e medo, estava assustada. Alguém que eu nunca vi em toda a minha vida. Que eu mal sabia o nome, e agora nem lembro mais. Que tipo de espaço eu dei pra que isso acontecesse? 
De todos os pensamentos que tive, o único que saiu da minha boca foi "Como o senhor sabe essas coisas?" e ele se desculpou. 
"Me desculpa dizer essas coisas assim do nada. Mas eu tinha que falar. Eu vi você e tinha que falar. Preciso ir. Obrigada e até mais."
Fico pensando se meus olhos pediam socorro naquele dia, e eu não ouvi.
Foi absurdamente estranho como tudo aconteceu. Não sei de que religião ele era, se algum espírito ou anjo falou algo, ou se ele era clarividente. Tem muitos "ou" na minha cabeça, que sempre terminam em "sei lá" quando lembro do episódio, mas desde então eu sou extremamente cuidadosa com a minha postura.

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