parcelas de universo

Era só uma noite como qualquer outra, exceto pelo fato de eu chegar em casa às 8:30 da noite e ter tempo pra ficar um pouco mais com a minha mãe. Ela passa o dia fora, trabalhando, e quando chega, eu quem estou saindo para a faculdade. Os desencontros não são raros.

Na quarta-feira em que cheguei mais cedo, ela mostrou surpresa.

"Mas tu já tá em casa?!"

Sentou no sofá em que deitei e colocou minhas pernas no seu colo.

Contou do dia que teve, reclamou de uma coisa ou outra, disse estar com sono e foi para o quarto. Eu a segui.

Coloquei dois travesseiros do chão, ao lado da cama, e me deitei.

"Mãe, deixa eu te mostrar uma música."

Ficamos ali alguns bons minutos, ela na cama, eu no chão, alternando entre uma música e um vídeo, compartilhamos um pouco de silêncio - algo que nós duas prezamos muito.

Num instante desses, de quietude, me ocorreu um pensamento.

Mães são seres mágicos. São uma parcela do universo agindo na vida da gente.

Te preparam pro mundo, e estão sempre prontas para te aparar das angústias que ele nos trás.

Mostram o caminho, mas se você se perde, são capazes de irem te buscar, nem que sejam sozinhas, no meio do pior caos e te trazem de volta pela mão.

Te mostram o que é certo, mas se erra, são as as primeiras a ajudá-lo a colocar tudo no lugar.

E ainda são capazes de entrar na mente da gente. Tenho certeza.

Algumas, infelizmente, não têm noção do poder que possui quando se tornam mãe, não conseguem permitir que outro coração bata fora de si e só deixam como legado a mágoa e buracos feitos de solidão.

"Quando tu ficar velha, for embora de casa, me deixar e essas coisas, vai lembrar de noites como hoje. Nós duas fazendo companhia uma pra outra, tu me obrigando a ouvir tuas músicas. Tu vai guardar pra sempre."

Eu sei, mãe. Tava pensando exatamente isso. Nesse minuto.