quarta-feira, 17 de outubro de 2018

Eu queria que todo mundo pudesse ter conhecido o meu avô.
Ele é, com toda a certeza do mundo, a pessoa mais bondosa que eu já conheci.
Sempre foi muito amoroso com os netos, apaixonado pelas filhas e derramado pelo único homem entre as cinco mulheres da prole e ainda o caçula.
Meu avô era a personificação da brandura. Em 24 anos da minha vida, eu nunca o vi murmurar, se queixar. Nem nos dias mais difíceis da doença, enquanto lúcido. Como o senhor tá, vô? "Ah ta bão. Tem que tá ruim mas tá bão também".
Minha mãe e a tia mais velha confirmaram que nunca viram ele e a vó brigar. Nunca, por nada. A não ser pelas vezes que a vó exagerava nos corretivos e ele odiava ver ela judiando das meninas.
A alegria dele era ver a vida brotar. Criava um pouco de gado e ficava todo faceiro e apaixonado sempre que um bezerrinho nascia. Carinhoso com os gatos da casa, com os cachorros. Não canso de dizer, um homem sem igual.
Nesse momento de luto, as opiniões sobre ele são unânimes. "Sempre gentil, sorridente, cumprimentava todos os vizinhos. Muito educado." Ele dizia que café e bom dia não se nega a ninguém. Que Deus me ajude a levar isso pro resto da minha vida.
Aliás, Deus era amigo dele. E se alguém merece estar no colo do Pai agora, é o seu Vicente. A fé o mantinha de pé. Nem nos dias mais difíceis, como Jó, nunca sequer perguntou o por quê do sofrimento.
Conversando com os parentes, chegamos a conclusão de que não tem uma pessoa nesse Quinari que possa falar algo de ruim do vô. Ele não magoou ninguém, não machucou ninguém, não foi rude, nunca deu um bom dia atravessado.
Não existe ninguém como ele.
Meu avô era surreal de bom. Espero que vocês tenham a oportunidade de conhecer alguém como ele um dia. Mas eu acho difícil.
O médico dele falou que nunca teve um paciente com tanta dignidade como meu avô. Muito amado e bem cuidado pelos filhos.
Um amigo me disse que meu avô criou uma mulher incrível que é a minha mãe e ela foi capaz de criar três pessoas incríveis que somos eu e meus irmãos. E esse é o maior legado dele. Nós, filhos e netos educados, responsáveis, honrados. Vou lembrar disso pra sempre.
Mesmo muito triste, tô aliviada. Ele merecia descansar. Os últimos meses foram muito difíceis. A teimosia dele, às vezes, deixava a gente de cabelo em pé, mas cada minuto com ele foi precioso.
E eu me sinto muito feliz por ter tido a oportunidade de conhecê-lo e chamá-lo de vô. Tê-lo perto e ter puxado dele a tara por doces.

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