domingo, 14 de maio de 2023

Eu duvido da minha existência. Quem realmente pode garantir que estou aqui, se não você?
Eu cresci dentro de você, antes de eu estar lá, você já estava. Meu início. 
Como se você fosse meu próprio deus.

Eu nasci de você. Estivemos intimamente ligadas por um longo tempo. Ligadas fisicamente. Carnalmente. Você me nutriu com o seu próprio corpo. Me manteve. Me viabilizou a vida.

E quando eu respirei pela primeira vez, você estava lá. Você viu. Você ouviu. Você era a única a poder atestar e dar fé disso. Você testemunhou que, um dia, numa terça-feira de agosto, às 20 horas, eu existi para além dos seus sonhos de infância. Eu cheguei ao mundo e você estava me esperando, por que você sabia que eu viria, tão forte e tão fundo dentro de si própria, que ninguém jamais ousaria contestar que eu existi.

Porque você viu.

E agora, sem você, a única pessoa que poderia afirmar isso com certeza indubitável que eu não sou uma fantasia, um delírio coletivo, um engano da realidade - eu sinto que a qualquer momento eu posso desparecer como poeira, que me esquecerão como a última música da temporada, que não haverá ninguém pra dizer "ei, eu a vi chegar!" e isso bastará, porque você é o meu início e só você viu minha estréia.

Eu vim de você, a partir de você. Vim pra você e nunca serei pra ninguém o que fui pra você.

Você. Minha primeira percepção de um mundo inteiro. Aprendendo a viver por fora depois de viver 40 semanas por dentro.

Meu início.
Comigo até o meu fim.

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