domingo, 17 de fevereiro de 2019

Freak

Acordou num pulo, ofegante, suada, molhada entre as pernas. Era a primeira vez que tinha um sonho erótico.
Um par de mãos que corriam por seu corpo com firmeza, sabendo onde tocar pra lhe oferecer prazeres intensos. Línguas - sim, mais de uma - lhe lambiam, por toda parte ao mesmo tempo, bocas que lhe beijavam com voracidade. Ela ainda podia sentir os hálitos quentes daquelas bocas em seu rosto. Curiosamente, havia cheiro de saliva debaixo do seu nariz.
Jamais tinha tido um sonho desses. Estava envergonhada, achava que Deus a julgaria por isso. Extremamente religiosa, ainda era virgem aos vinte e quatro anos, mal havia beijado na boca antes, quanto mais feito sexo. E aquele sonho era um pecado pra ela.
Ainda assim, contrariou a si mesma tocou-se e sentiu como estava encharcada, ao mesmo tempo que sentiu um arrepio e seus músculos contraindo num reflexo. Tirou a mão de dentro da calcinha tentando afastar os pensamentos tão impuros que insistiam em permanecer.
Seu sexo latejava, praticamente implorando para que continuasse sendo estimulado, como no sonho.
Voltou a mão para dentro da calcinha e devagar, ainda relutante, massageava seu clitóris em movimentos circulares. Não demorou muito pra que se entregasse aos prazeres da carne e simplesmente parou de pensar. Que Deus a perdoasse pela masturbação depois.
Seu dedo do meio deslizava para cima e pra baixo, de um lado para o outro, hora lentamente, hora com rapidez, por toda a vulva. Estava quente, melada, respirava tão ofegante como quando acordou. Intensificou os movimentos e não demorou a gozar, deixando escapar dos lábios entreabertos um gemido contido.
Ficou deitada, olhando pro teto escuro do quarto enquanto seu coração desacelerava, sentindo um misto de culpa e euforia. Num ato ousado para ela, levou o dedo à boca, sentindo seu próprio gosto.
Passados alguns longos minutos, sentindo-se recuperada dos formigamentos em forma de pequenas descargas elétricas nas pernas, virou de lado, afim de alcançar o abajur na mesinha de cabeceira, ao lado da cama.
Uma luz amena irradiou do abajur, sem agredir a visão, até que se acostumasse com a claridade. Aos poucos, a vista foi se adaptando e ela conseguiu identificar as formas do quarto novamente. Sentou-se na beirada da cama, com intenção de ir ao banheiro se limpar. Ao se pôr de pé, sentiu um líquido quente descer por suas pernas como cachoeira. A visão era tão perturbadora, que mijou-se no mesmo instante.
Sentado na cadeira, de frente para a sua cama, uma aberração a encarava. Aberração era pouco. Não havia nada que pudesse descrever o que era aquilo, nada que pudesse descrever o terror que chegava a doer em seus ossos.
Maliciosas, as bocas sorriam. Um corpo de homem nu da cintura para cima e uma calça aberta na altura do pênis.
Um homem. E duas cabeças. Assim, exatamente como Bette e Dot Tattler.
O ar lhe foi arrancado dos pulmões e ela não conseguia proferir uma só palavra. Caiu sentada na cama novamente, sem piscar, sem conseguir desviar os olhos daquilo, enquanto os dedos dos pés estavam mergulhados em uma poça de urina. Achou que estivesse sonhando, achou que fosse a punição imediata de Deus por seu pequeno ato libidinoso. Achou que o próprio Diabo veio lhe buscar para o inferno. Tantos pensamentos em tão pouco tempo...
"Sabe", uma das cabeças, a da direita, começou a dizer enquanto segurava o próprio o pênis - a outra cabeça mantinha a expressão de prazer enquanto se masturbava - era um pênis pros dois? O que merda era aquilo? - "nós íamos nos contentar em apenas brincar com você enquanto dormia, mas você acordou". Então não havia sido um sonho, as bocas, as línguas, as mãos! Era ele. Eles. Estava tão desesperada que sentia seu coração ameaçar saltar pela boca e, ao mesmo tempo, sua pressão cair.
"Você acordou e começou esse showzinho tão delicioso que resolvemos ficar pra assistir", era a vez da Esquerda falar. "Você se divertiu? Quer mais? Podemos te dar mais", se levantaram.
Ela se encolheu na cama, de olhos fechados, esperando que quando abrisse, eles não estivessem mais ali e fosse tudo um pesadelo. "Imagine", tornaram a dizer, "todos os prazeres que duas bocas podem lhe dar" e caminhavam em direção à cama.
Cobriu a cabeça com o cobertor e se fez silêncio. Achou que tudo tinha acabado quando duas mãos lhe puxar pelas pernas.
E essa foi a última coisa que sentiu antes de acordar num hospital psiquiátrico, amarrada pelos pulsos e tornozelos.

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