segunda-feira, 15 de abril de 2019

bebedeira

Não era pra ter sido assim. Eu só queria me divertir, relaxar depois de uma semana estressante (como todas têm sido há tempos). Mas eu não sei mais beber. Acho que nunca soube.
Sempre que bebo, sigo um roteiro próprio, que não é ensaiado, mas sempre acontece igual. Nas primeiras doses, meus músculos relaxam e meus braços pesam; as pernas amolecem e eu sinto que estou bastante relaxada.
Depois, se continuo a beber, minha visão começa a me enganar um pouco. Perco a noção de profundidade e poderia parar por aí se tivesse parcimônia. Logo depois chega um rápido momento que meu parceiro reconhece bem: eu o olho diferente, o beijo diferente e sinto o álcool me esquentar entre as pernas. Embora eu tenha insistido muitas vezes, ele nunca me toca quando chego nesse estágio. Geralmente é quando ele me aconselha a pisar no freio.
Mas não ontem. Estávamos em casa, vendo um filme, comendo salgadinhos. O que poderia dar errado? Ele não me aconselhou a parar e eu segui bebendo. Dane-se se amanhã é segunda-feira.
Bebi mais um tanto e perdi o filtro.
Sentada no chão da cozinha, enquanto comia dois chocolates a fim de colocar um pouco de açúcar pra dentro, eu disse que queria chorar.
Carinhosamente ele me sentou em seu colo e me tranquilizou pra fizesse isso sem medo, sem segurar, sem julgamentos. Que arriasse toda a carga que venho carregando. E assim o fiz.
Chorei no seu ombro, molhei sua camisa, chorei no travesseiro. Chorei e chorei até dormir.
 
Chorei por causa dos dias nublados que escondem a esperança de um sol de rachar; a falta de perspectiva; medo do futuro; medo do presente e todas as coisas que andam me tirando o sono; ansiedade por não conseguir lidar com os planos a longo prazo; o sofrer por metas não atingidas. Os conflitos familiares; o emprego que detesto; não saber o que fazer dessa vida...

Na manhã de hoje, um misto de tristeza e vergonha pelo vexame, além de uma ressaca leve. Logo veio o acalento "disse pra você bêbada e digo pra você sóbria: sempre estarei aqui e você nunca estará sozinha". Tenho tanta sorte, que nem sei!

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