sábado, 13 de abril de 2019

Minha versão dos Sete Dias

- Tem esse cara, sempre vejo os vídeos dele no YouTube, ele salta de paraquedas SEM parqueadas.
- Sim, suicídio que chama. - eu respondi rindo.
- Ele joga o paraquedas primeiro e depois pula atrás pra buscar, ou então ele salta e alguém salta atrás dele. Eu acho sensacional. Morro de vontade de fazer também. Um dia vou fazer!

Ele contava empolgado, como se aquilo fosse a coisa mais legal do mundo. De fato, parecia ser muito divertido, mas gosto muito mais dos meus pés no chão. Bem firmes. Em segurança.
Era hipnotizante vê-lo com os olhos brilhando enquanto falava das coisas que gostava, das coisas que queria me mostrar e queria fazer comigo também. A voz que ficava cada vez mais alta, revelando tamanha excitação em me apresentar seu mundo. E o sorriso largo. Que sorriso! A boca perfeitamente desenhada, os lábios carnudos, os dentes alinhados de forma típica de quem já usou aparelho. Aqui posso confessar que tenho certa fraqueza por sorrisos pós aparelho ortodôntico.

Conversa vai, conversa vem, e eu me via cada vez mais envolvida. Há quase duas semanas nos víamos quase todos os dias. Todo o tempo do mundo parecia pouco pra gente. Tínhamos tanto a falar, a ouvir. Coisas a descobrir sobre o outro. Contar sobre as cicatrizes de infância, encontrar marcas de nascença parecidas em ambos e ter certeza absoluta de que o destino fez um trabalho bem feito. Ali, naquela noite, eu já sabia que estava apaixonada e não queria estar em outro lugar que não fosse aquele.

E então, depois de uma daquelas gargalhadas que acabam num suspiro e um silêncio confortável, ele tomou minha mão pra si, endireitou a postura, ficou sério de repente.
- Quero te perguntar uma coisa, mas não sei bem como.
Ele me olhava nos olhos e eu sabia o que viria. Meu estômago deu um nó, meu coração batia tão rápido, tamanho o nervosismo, que jurei que sairia pela boca. Minhas pernas tremeram e quiseram fraquejar, e continuar de pé foi um esforço gigantesco.

Nunca vou me esquecer daquela noite. Do rio atrás de nós, das luzes do calçadão, do banco onde conversamos por horas, do bêbado aporrinhando, o lugar onde comemos a esfirra mais ruim, cara e de péssimo atendimento até hoje. E sensação de que nada faltava.

- Quer namorar comigo?

Aí estava a pergunta que eu esperava. Que queria dizer "sim" imediatamente, mas não pude pois ainda tinha assuntos a resolver antes disso.
Sorri marota e se meu senso de humor foi uma das coisas que o mais fascinou, ia provar dele na pele.

Esse negócio de pular da ponte no rio, pular sem paraquedas... Me deixou aflita sem razão de ser. A menor possibilidade, por mais remota que fosse, de perdê-lo, ainda que nem fosse meu, me fazia querer chorar. Precisei disfarçar enquanto ele falava, mas agora poderia usar isso a meu favor.
- Só se você não pular mais da ponte e parar com essas conversas de saltar de paraquedas sem paraquedas. Aí eu penso no teu caso e te respondo daqui 7 dias úteis.


A versão dele você pode ler aqui

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