terça-feira, 5 de maio de 2015

sons de dentro

Deitada no sofá, ela sentia o corpo mole, pesado. Não era doença, era só cansaço. Tentava um breve cochilo naquela tarde, mas não conseguia.
Não era o peso -confortável- do gato, adormecido, em cima da sua barriga que incomodava.
Não eram os latidos dos cachorros dos vizinhos, implicando com alguém aleatório que passava na rua.
Tampouco a claridade que entrava pela janela de madeira, pois desta, ela já havia fechado uma das bandas.
Era o barulho do seu coração batendo. Batia alto. Um som fino e descompassado.
O que a impedia de relaxar eram os pensamentos que gritavam na cabeça.
Ela estava tão sensível consigo mesma, que jurava ser capaz de ouvir o chiado do sangue correndo pelas veias e artérias.
Fechava os olhos e sentia suas articulações rangerem, como se lhe faltasse lubrificação e estivesse enferrujada.
A calmaria poderia vir de qualquer lado, de qualquer lugar. O silêncio poderia vir da casa vazia, dos cachorros dormindo, da rua deserta.
Mas os sons que vêm de dentro são terríveis como unhas raspando em quadro negro, daquelas que fazem até os dentes doerem, capazes de arrebentar os tímpanos dos corações mais frágeis.

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