sábado, 25 de julho de 2015

promessas


Aquele seria o último encontro dos dois. Ela estava decidida a por fim no relacionamento e ele a riscaria do mapa da vida dele. 

Quando ela disse que queria terminar, ele pediu um último encontro. Uma última noite juntos e depois sumiria da vida dela. 
Relutante pelo medo e pela dor que vinha acumulando havia algum tempo, ela aceitou. Achou que mereciam, em nome da história que viveram.
A princípio, a idéia era de que não houvesse clima de despedida. Não tocariam nos velhos assuntos, memórias antigas e nem na decisão que os trouxe até ali. Não seria uma viagem no tempo, segundo ele. Não ouviriam as músicas que os embalou várias vezes. Teriam mais uma noite dentro da normalidade que só cabia aos dois. 
Ele apenas queria decorá-la e guardá-la dentro dele, pois dali pra frente apagaria todas as fotos dela. E não mediu olhares, não a poupou de deixá-la encabulada. Mesmo depois de tanto tempo, ainda se orgulhava da façanha esboçando um sorriso de lado.
Falho como só ele poderia ser (e absolutamente previsível) , sentou-se de frente a ela e colocou pra tocar a mesma música da primeira vez que fizeram amor. Ela questionou a memória que a música trazia e ele rebateu dizendo que ambos eram bons em fazer promessas que não seriam capazes de cumprir.
Ele falava do que sentia e ela absorvia tudo em estado inerte. Ela não se movia, mal piscava, vez ou outra rolava uma lágrima pelo furacão sentimental que se formava dentro dela. 
Todas as certezas que a trouxeram àquele momento estavam tão firmes quanto um punhado de areia escorrendo pelos dedos. 
Tanta confusão e a aflição a deixavam perturbada.
A conexão entre o olhar dos dois era tão intensa que poderia ser facilmente tocada. A química entre os corpos é tão exata e perfeita e exclusiva que se sentiam desconfortáveis em suas cadeiras. Precisavam se tocar. Ansiavam um pelo outro. O desejo de estarem juntos e sentir o suor, o cheiro, a boca, a pele, o toque, era maior que qualquer outro sentimento no momento. Precisavam sentir-se um do outro como há muito tempo não eram. 
Ele queria ser amado, ela queria se sentir viva de novo.
Queria sensações que só ele causaria. Só ele causou em toda a sua vida. 
Ele finalmente se levantou e ela sentiu o estômago dar um nó, tamanha a ansiedade, nervoso e curiosidade em saber o que ele faria.
Parou atrás dela, afastou o cabelo e depositou-lhe um beijo na curva entre o ombro e pescoço, subiu os lábios até seu ouvido e a convidou: vem deitar um pouco comigo.
No impulso, ela fechou os olhos e sentiu todos os pêlos de seu corpo eriçados. Já não lembrava mais por quê estavam ali, só sabia que não queria que fosse mera despedida e que não terminaria. 
Ambos eram bons em prometer e não cumprir.

Nenhum comentário:

Postar um comentário