Entre os seis e o oito anos de idade morei numa pequena cidade interiorana, conhecida por Terra do Amendoim. Morava ao lado da casa dos meus avós e tios e na esquina de casa havia (e ainda há) uma antiga igreja católica.
Visualmente falando, a igreja é bastante tradicional: um painel bonito no altar, um grandioso Jesus Cristo entalhado em madeira, numa cruz, todo envernizado, representando o sofrimento do filho do Todo-Poderoso. Os bancos de madeira, divididos em duas filas e eu, que só fui em uma única missa.
O sino era tocado religiosamente(!) por um senhor, que morava nas dependências da igreja, nos fins de semana, para anunciar a missa.
Poucas coisas me deixavam mais feliz que me sentar na varanda escura da casa da minha avó, acompanhada pela tia Eliane e pelo meu avô e esperar pelos badalos intermináveis do sino.
E contá-los.

O silêncio da pequena cidade só era quebrado pelos grilos, cigarras e o sino, enquanto as estrelas tomavam forma e brilho no meu céu favorito.
Divididos entre cadeiras de balanço e um banco de madeira, branco, ao estilos dos bancos de praça, contávamos. O número sessenta e dois é nítido na minha cabeça. Por vezes eu perdia as contas e recomeçava o continuava de onde eu achava que estava, mas sessenta e dois é claro para mim. Pode ser que minha tia tenha outras contagens e meu avô também.
Soube que o senhor morreu e me disseram que, hoje, quem toca o sino, não tem mais o mesmo entusiasmo. E não tem mesmo, visto que da última vez contei dez toques.
Não há moralismo não minha história, nem nada a ser refletido. Só a saudade que eu carrego dos cantos de cigarra e noite embaladas por badalos.
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