terça-feira, 10 de março de 2015

passarinho no muro

A vida é passarinho livre e a morte é gato à espreita, esperando a hora do bote certeiro.

No sentido literal. 
Aconteceu comigo essa semana. 
Um dos meus gatos atacou um passarinho e estava desfilando com ele na boca, pela minha varanda, exibindo seu feito. Era seu troféu, a prova de que ainda havia instinto selvagem em seu sangue.
A pequena ave ainda piava, com tom de súplica. Com firmeza e cuidado apanhei-a de entre os dentes do felino, que se mostrava nada satisfeito com a minha atitude.
Tão bonito o passarinho. Olhos avermelhados, no tom marsala, piscavam devagar. A penas pretas e marrons reluziam com o reflexo da luz da lâmpada da cozinha. O bico era longo e fino, quase amarelo-queimado. Não sei que espécie era.
Na palma da minha mão, grande, por sinal, ele parecia ainda menor. O segurava com cuidado e ele respirava rapidamente, eu conseguia sentir seu coraçãozinho batendo acelerado. Não havia o que fazer.
Só esperar.
Fiquei observando e pensando no quão frágil a vida pode ser. A morte é inevitável e você nunca saberá se morrerá naturalmente ou se o ar de seus pulmões lhe será arrancado brusca e inesperadamente, como um passarinho pousado no muro alvo de um gato.
Mas esse é o tipo de pensamento que pode atordoá-lho em questão de tempo. Se você vive com medo da morte, não viverá uma vida onde aceita morrer em paz.
O passarinho na minha mão deu três suspiros longos, pareciam doloridos.
Tentou se levantar uma última vez e relaxou por completo entre meus dedos. 
É assim que acaba, não é? A vida. Depois de tanto corre-corre, ansiedade e todos os dilemas, só relaxamos por completo quando ela acaba.

Enterrei o passarinho ao pé de uma moita, na praça ao lado da minha casa.

Nenhum comentário:

Postar um comentário