sexta-feira, 13 de março de 2015

otimismo de ilusão

Quando eu e meus irmão éramos crianças, sempre que um gato de estimação sumia, era um deus-nos-acuda. Procurávamos por toda a vizinhança, minha mãe tentava consolar, dizia que ele poderia ter apenas ido dar uma voltinha e voltaria, ou que estava escondido em algum lugar por aí. Às vezes, o gatinho tinha até morrido e a mãe nos escondia.
Quando anoitecia, era a pior parte. Acontece que os bichanos, na minha casa, sempre foram tratados feito gente, cheios de regalias, inclusive, dormir na cama conosco. Anoitecia e o chororô era um só:
-Tadinho, mãe. Acostumado a dormir com a gente, no quentinho, agora deve tá com fome, com frio, dormindo na rua, no chão sujo e duro.
Incrível como o discurso sempre se repetia.
Minha mãe, na tentativa de consolo sempre dizia:
- Vocês preferem acreditar que ele tá mesmo nessa situação ou que alguém achou ele e levou pra casa? Porque bonitinho daquele jeito, crianças, eu duvido que alguém não queira.
Claro que sempre preferíamos pensar na segunda opção. O gatinho sumido foi acolhido por alguém.
É curioso pensar no otimismo que mantínhamos nessa situação. A mãe, que tentava nos proteger do sofrimento, acabava criando uma ilusão pra gente, que nem ela acreditava. 
Hoje percebo que a gente vive criando ilusões pra se proteger do impacto da realidade, sobre todos os assuntos a nossa volta. É o tal do otimismo.
Até hoje, tamanhos 20 anos nas costas, meus irmãos com 18 e 15, sempre que um gato nosso ainda some, nos entreolhamos e dizemos:
-Alguém deve ter pego ele na rua, né?


Lucas, Rodrigo e eu, nessa ordem. O miante chamava-se Billy. Alguém deve tê-lo pego e levado pra casa.

Um comentário:

  1. O otimismo nos mantem em pé! Na vida muita coisa se estraga, mas, há aquelas que são realmente críticas, que quando estão comprometidas, nos fazem entender (ou não) o que realmente importa na vida.

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