sábado, 7 de março de 2015

repare no que não vê.

Eu não tô pedindo pra você perceber que eu pintei o cabelo de azul, discretamente, na parte de trás, na nuca. 
Nem quero que repare que consegui, finalmente, parar de roer as unhas e as pintei de vermelho.
Muito menos que pintei as dos pés de preto.
Não quero que perceba meu vestido novo e que eu troquei o batom vermelho por um rosinha delicado.
Quero que perceba minhas mãos inquietas, que não param de estalar os dedos, e minhas pernas que balançam para frente e para trás.
Perceba que não implico com o seu comentário bobo.
Repare bem na piada que eu não fiz. Na oportunidade que deixei passar e não disse algo que renderia bastante assunto durante o jantar.
Que prefiro acender um cigarro. E depois outro. E mais um, em seguida.
Veja além do meu tênis vermelho e a saia azul.
Presta atenção, que eu não olho nos seus olhos.
Mas também não olho pra lugar nenhum.

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